Caffeine Intravenous

domingo, 3 de setembro de 2017

A poetisa Carolina Turboli e o seu livro Teatro de Ostra



“Scarface”


I
Teus olhos precisam de deserto

Tu preferirias tirá-los e finalmente
separar um do outro, deixando o direito
mais confortável pra ensiná-los a justiça ou
deixar o gauche queimar como bruxa ou

Sentindo prazer em enterrá-los vivos
enquanto o resto do corpo cega

Adivinhar que se debatem nos grãos
que arranham sem dó como gatos

mas não 
II
Repousas os olhos na mancha 
que me corta o umbigo, sente 
que se debatem – pombos 
esfomeados – tremelicam de leve e tu ficas
feio, não sou alquimista, tu saltas 
no meu corpo e me preenche 
de cobertas até que começo 
a te ensinar o fogo

Só então tu olhas o Sol 
recusas mais uma manhã

Meu corpo te mancha de terra.
III
Teus olhos precisam de um 
deserto como a mancha 
do meu umbigo precisa 
dos teus olhos me molhando

Teus olhos me comem e 
me alimentam

Te enraízas cada vez mais
Te afundas
IV
Se eu te desse um deserto
talvez a tua torneira de açúcar
fosse a cereja do bolo 

Não a loucura que respinga
Não a loucura que incomoda

Tu enfim me desertarias
mas não
V
O amor ignora o coração
porque fica preso nos olhos

VI
Manchaste-me.






Sem comentários:

Enviar um comentário